Depoimento



um dia


 Um dia na avenida percorria eu. Trafegava sobre o tapete preto, porque andar nas calçadas em altas horas é temerário. E passava alguém. Alguém caminhava. Eu corria. Corria porque tinha medo de alguém. Alguém apenas caminhava. Não se tem relatos que alguém tinha medo de mim, só se sabe que eu tinha medo de alguém.
Eu corria em direção a luz. Alguém corria em direção ao mar. Eu corria em direção porque tinha medo de alguém, e não há relatos se alguém tinha medo de mim. E não se tem relatos porque alguém caminhava em direção ao mar. Só se sabe que eu tinha medo de alguém porque desconhecia a identidade de alguém. Será que alguém tinha medo de mim? Toda via não simbolizo medo. Se bem que alguém tinha o direito de ter medo de mim. Contudo, não há relatos se alguém tinha medo.
Um dia na avenida trafegava eu e alguém. A bulevar estava escura. A hora era aquela em que o sol está no nadir. Eu tinha medo e não há relatos se alguém tinha medo, uma vez que não se sabe seu causava medo. E logo percebi que ali não estávamos sós. Outros seres transitavam por ali. Tinha ratos, baratas, putas logo em frente, tinha eu e tinha alguém, que alguém caminhava em direção ao mar.
Não há relatos se alguém tinha medo de mim, ou simplesmente medo. Era sexta, e era o dia do lixo. Já tinham passado recolhendo. A olência está em toda parte. Chega a ultrapassar meu cérebro, pensei. Será que o meu medo é verdadeiro? E alguém? Vou falar? Não vou falar. Devo falar com alguém? Não vou falar. Percebo que suas vestes não são ignotas. São corriqueiras.
A veracidade que nunca saberei quem era alguém. Posso ter perdido uma grande oportunidade de conhecer um ser sublime, ou um marginal. O que sei senhor é que nunca saberei quem era alguém, e se esse alguém tinha medo de mim, uma vez que eu tinha medo de alguém.


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