Estou Bem




Vejo que estou bem.
Já não lembro quando estive parecido com isso.
Completa-se um tempo em que não me vi assim.
Eu acho.
Até meu lar está com um cheiro corrente.
O mofo foi indo os poucos,
Do ar e da fronte.
Meu sorriso manifestou-se.
Irei usufruir disso.
Estou até pensando em cantar umas melodias.
De primazia alta.
Para que meus vizinhos escutem que hoje estou bem.
E lembrar que aqui em cima mora alguém que estar bem.
Abrir essas cortinas e deixar o sol entrar para me visitar, de tão bem que estou.
Jogar meus papeis amargurados pela janela.
Para esquecer aqueles textos tristes.
Afinal, estou bem.
Estou eufórico.
Estou muito bem.
Isso pode ser indícios de contentamento.
Sem nada para solenizar e me sinto assim, ledo.
E vou reproduzindo quase que sempre que estou bem.
Sempre no final da linha, eu gosto de pronunciar que estou bem.
Porque estou bem.
Espera!
Talvez esteja exagerando.
Quem sabe seja isso que você está pensando.
Isto de que falo é uma inverdade.
Quanto ao inicio do texto, é tudo mentira.
Eu não estou bem.
Eu gostaria de dizer que estou, mas não estou bem.
Tudo de que falei até aqui é um engano.
Desde que fiquei assim, optei por ficar aqui onde estou.
Faz muito tempo que não saio de casa.
Pensando bem, a ultima vez que sai de casa, foi nos braços de mamãe.
Quando vou a padaria por exemplo, não sou eu, é um outro.
Ele parece comigo, porém só a parte de fora.
Eu criei casca grossa.
Raiz.
Medo.
Medo do que vi e ouvi.
Daqui de casa eu vejo.
Também escuto.
Eu tenho medo de gente.
Dessa gente que não sente.
Como eu sinto.
Aí invento.
E retorno a inventar.
É isso que me faz continuar respirando.
Inventando.
E de tão bem fantasiado, acabo acreditando.
Meus dias se resumem em penejar e exprimir comigo pessoalmente.
As vezes me comunico com Deus, mas já tem um tempo que ele não me responde.
Talvez esteja ocupado demais com essa gente de que falo.
Quanto aquele mofo, ele não se foi,
Ele também tem sido minha companhia.
Ele ainda está aqui,
Bem aqui
Na sala,
Na casa,
Na roupa,
Em mim.
Mofo maldito,
Eu insisto,
Sai daqui.
Eu retiro o Maldito.
É que as vezes vem o esgotamento.
Tadinho!
Vai ver ele também tem medo dessa gente limpa.
Só ver se não toma conta de mim.
Eu não sou louco.
Eu não me sinto bem é em mentir.
Para ninguém.
Não, isso também é mentira.
Sempre que dá eu minto para mim.
Começo a pensar que estou bem.
Que não preciso de ninguém.
Que sou feliz sozinho.
Que essa gente de que falo não morde.
Aí num instante, eu acordo e percebo que tudo é mentira.
As vezes me pergunto se é melhor acarar essa gente, ou me acarar.
Mas eu tenho medo de me acarar e me discernir.
Medo de quebrar essas grades e ficar sem asilo.
Eu tenho medo dessa gente que morde e que não sente.
Eu tenho medo de sair e restar para mim, sabe?
Acho que o melhor é ficar aqui,
E sentir como estou sentindo.
Sem essa gente que não entende.
Que não compreende.
Eu falei isso antes não é mesmo?
Sempre penso que a largada para essa existência é se engabelar.
Se agarrar em algo e se iludir.
Enquanto isso vou me enganando e acreditando e fingindo que estou bem.
É o único meio que enxergo para resistir a essa balburdia.
Que estou bem.
Estou bem.






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